Casal cego de Pinhais compartilha trajetória de superação, arte e inclusão

29/09/2025
Foto: divulgação Prefeitura

Com uma história marcada por superação, sensibilidade e engajamento, o casal Maria do Carmo Santiago Rodrigues, de 68 anos, e Genadir Rodrigues, de 64, ambos cegos há décadas, tem deixado um legado inspirador em Pinhais (PR). Moradores da cidade desde 2017, eles participaram recentemente da Noite de Escritores, evento promovido pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Semel), e vêm se integrando cada vez mais aos serviços públicos e atividades culturais do município.

Além de serem músicos, compositores, escritores e pais de três filhos, Maria e Genadir são os protagonistas da série de reportagens “História de Protagonista”, voltada a valorizar pessoas com deficiência e neurodivergentes. A coordenadora do programa “Histórias que Incluem”, pedagoga Karina Valim de Araújo, destaca a relevância do casal:

“Na história de Genadir e Maria há motivação em cada palavra. São exemplos de que é possível conquistar muitos espaços.”

Trajetória marcada por desafios e conquistas

Maria do Carmo nasceu com glaucoma congênito e perdeu totalmente a visão aos sete anos. Aos nove, foi estudar em um colégio especializado em São Paulo. Já adulta, mudou-se para Curitiba, onde conheceu Genadir no Instituto Paranaense de Cegos (IPC). Os dois se casaram aos 29 anos e criaram juntos uma família com três filhos: Alvanice, Reginaldo e Angelita.

Genadir, natural do sertão de Minas Gerais, teve perda gradual da visão até ficar totalmente cego aos 18 anos. Sem acesso à educação formal na infância, aprendeu a ler com primos mais velhos e também buscou autonomia por meio do IPC, em Curitiba.

Ambos enfrentaram preconceitos e limitações ao longo da vida, especialmente no ambiente de trabalho. Maria, por exemplo, atuou como telefonista no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) e, após se formar em Serviço Social, teve de lidar com julgamentos baseados na aparência de sua deficiência.

Apesar dos obstáculos, Maria ocupou outros cargos e trabalhou na divulgação da urna eletrônica. Genadir teve passagens por diversas profissões, de trabalhador rural a massoterapeuta, e se aposentou após atuar no setor de bem-estar de empresas como O Boticário e o banco HSBC.

Música e literatura como ferramentas de expressão

A paixão pela música acompanha o casal desde a juventude. Genadir aprendeu violão ainda na adolescência e chegou a dar aulas. Com Maria, compôs diversas músicas, muitas delas inspiradas na família. O casal segue se apresentando em eventos culturais, como o Festival Acordes para a Vida – Versão Online, com apoio do Instituto Brasileiro das Pessoas com Deficiência em Ação (IBDA).

Eles também são autores do livro “Um olhar para a realidade à luz do ideal”, em que narram suas trajetórias, superações e reflexões sobre a deficiência e a sociedade.

Inclusão na prática

Hoje, Maria e Genadir participam ativamente de iniciativas voltadas à inclusão no município, como as ações do Centro Cultural Wanda dos Santos Mallmann, onde está localizada a Biblioteca Municipal, que conta com acervo em braille — incluindo o livro do casal.

Eles também compartilham suas experiências em espaços como o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e atuam como referências vivas do poder transformador da inclusão.

Além das tecnologias assistivas, como celular e computador com leitor de tela, o casal segue utilizando métodos tradicionais, como a reglete e a punção, para escrita em braille. “Hoje temos mais autonomia. Está muito mais fácil do que na época da faculdade”, comenta Maria.

Coragem e participação ativa

Mesmo nas atividades de lazer, o casal surpreende. Em um passeio recente ao parque Beto Carrero, Maria encarou brinquedos radicais como a Big Tower e a montanha-russa. “Muita gente se impressionou com minha coragem”, conta. Para Genadir, o segredo está em não se esconder:

“Ninguém pode ficar em casa ‘internado’. Tem que sair, se mostrar, pedir ajuda ou buscar soluções.”

A mensagem que transmitem é clara: a deficiência não os define, e a limitação maior ainda está na forma como a sociedade enxerga quem é diferente.

“Não se pode dizer que quem não enxerga é igual aos outros. Não é. Mas o olhar limitado está mais na sociedade do que em nós próprios”, reflete Genadir.

Serviço

Interessados em conhecer os projetos de inclusão desenvolvidos em Pinhais podem entrar em contato com a Seção de Inclusão do Departamento de Lazer, Inclusão e Qualidade de Vida (DELIQ), da Semel:

Com informações da Prefeitura

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